26 de outubro de 2010

O QUE PODEMOS COLHER APÓS UM DIA NACIONAL DA JUVENTUDE? - Por Leonardo D. Gonçalvez -

O QUE PODEMOS COLHER APÓS UM
DIA NACIONAL DA JUVENTUDE?

                                                                                            Vamos juntos Gritar, girar o Mundo!
Chega de Violência e Extermínio de Jovens.
(Pe. Gisley, junto do Pai).


             Sempre ouvi que um DNJ é vivido de forma diferente por quem o prepara. De fato, pensando nos Dias Nacionais da Juventude que ajudei organizar, lembro que o sabor era outro. O ‘peso’ das responsabilidades, por vezes, condiciona-nos o sentimento que, a priori, deveríamos despertar ao participarmos de um dia dedicado à vida da juventude. Não quero dizer aqui organizar o Dia Nacional da Juventude é penoso e triste. Pelo contrário, as pessoas que disponibilizam suas vidas para preparar um dia como este, o fazem porque tem clareza que esta experiência é significativa e marca com profundidade a caminhada dos jovens.

            Este texto quer externar o sentimento colhido por quem vive o DNJ. Falo da participação no encontro de 23 de Outubro de 2010, na Ilha da Torotama em Rio Grande-RS. Ilha esta que preserva a comunidade católica (Nossa Senhora de Lourdes) mais distante do centro da cidade (cerca de 1h20min de ônibus), mas que foi escolhida pelas comunidades da Paróquia Nossa Senhora da Penha para sediar o IV Encontrão de Jovens. Também, este ano, contou com a presença juvenil de outras comunidades da cidade, Diocese de Pelotas e Diocese de Bagé. Um verdadeiro arranjo de pessoas que juntas celebraram a vida, denunciaram a violência e o extermínio escandaloso da Juventude e festejaram, em comunhão com as Pastorais da Juventude do Brasil, os 25 anos do DNJ.

            Na busca pelas melhores expressões (que, por vezes, faltam), sou levado a imaginar os discípulos de Jesus ao vê-lo transfigurado (Lc. 9,28-36). O mestre, na montanha, se apresenta transparentemente mudado, provocando um novo sentimento naquelas pessoas. Já não é o mesmo Cristo que conheceram! É um Deus aberto, que maravilha seus amigos pela infinitude com que se mostra.  Tenho convicção que a beleza presente em Jesus mexeu no íntimo dos discípulos. Ora, a beleza do encontro deste último sábado me (re)encantou. O que os jovens prepararam foi, sem dúvida alguma, uma pérola. Um gesto sincero, profundo, de quem realmente quer um mundo diferente. E isso é tão raro nos dias atuais que, quando ganha vida, criado pelo trabalho de jovens, é dever nosso torná-lo conhecido.

            Muitos momentos que vivi neste dia foram marcantes. Lembro a celebração. Uma liturgia muito bem pensada, organizada para que os jovens reflitam rezando, rezem refletindo e não fragmentem estas duas dimensões do humano. A equipe paroquial junta, na fila da frente, demonstrava o comprometimento dos jovens com a eucaristia que estava sendo celebrada. Os olhos daqueles meninos e meninas brilhavam ao ver Jesus sendo elevado pelas mãos do bispo. Lindo de ver! Cenas que dinheiro nenhum paga! A audácia destes jovens ficou marcada ao cantar o Pai Nosso dos Mártires. Escândalo Divino. Nem todos entenderam, mas aqueles que produziram este dia sentiram o sagrado cantando verdades por meio daquelas lindas vozes. Como a sociedade burguesa, sustentada pelo insustentável capital, deveria escutar emancipadamente orações como esta. Seria este, também, um desafio daqueles que procuram viver a exemplo de Jesus?

            A senhora dos ‘olhos pequenos’ veio a nós: - Meninos, não queremos cobrar o almoço! Os jovens não permitiram. A comunidade necessita receber alguma contribuição material que ajudará com os gastos de gás, luz, água que estavam disponíveis neste encontro. Precisam, acima de tudo, receber a gratidão dos jovens pela entrega em garantir a alimentação de mais de 150 pessoas. Isso tudo para dar uma noção do que foi o almoço deste encontro. Comemos amor, trabalho, carinho e crença numa juventude que pode transformar o mundo em um lugar bom para se viver. Os adultos, velhos, crianças que ali estiveram nos disseram sem falar: “Juventude, nós estamos com vocês”.

            Um Jovem parado é um jovem morto. Por isso, a Pastoral da Juventude, confiante na mudança constante, é a favor de promover caminhadas. Caminhamos para olhar no rosto das pessoas que não caminham conosco e dizer: Venham conosco! Nossa causa é a Vida! Neste DNJ, caminhamos pelas ruas da Ilha da Torotama para convidar aquela população a olhar o quanto à juventude está sendo exterminada. Juventude que morre pela ausência de trabalho digno, exterminada pelo fanatismo religioso, esportivo, morta pela busca de sentido de vida encontrada nas drogas e perdida no trânsito. Temos convicção que a juventude, em todos estes aspectos, é vítima. Vítima de um meio social produzido historicamente para não valorizar a vida. Nossa esperança reside nisto: Por ser histórico, é humano. Sendo humano, é passível de transformação. E que Deus nos permita efetivar a cada dia esta Campanha Nacional Contra Violência e Extermínio de Jovens.

            Dia Nacional da Juventude sem oficinas é como um dia sem sol. Acreditamos na capacidade da juventude em refletir temas necessários a vida da sociedade, da Igreja e dos grupos de jovens. Neste dia, as oficinas contaram, em sua maioria, com o trabalho da juventude da Diocese de Pelotas. Aliás, damos graças a Deus pela presença dessa turma em nosso encontro. Com um entusiasmo de causar inveja, nos proporcionaram uma importante segurança no trabalho formativo da tarde. São parcerias assim produzidas que demonstram a necessidade que temos uns dos outros. Afinal, se somos irmãos, devemos viver como uma grande família. Neste caso em particular, a família ‘pejoteira’.

            A alegria da comunidade pelo encontro ali realizado refletiu como um sinal de apoio à causa da juventude. Uma atenção de pai e mãe que cuida dos filhos como jóias raras! Sentia naquela gente, pelos olhares das senhoras e a agitação das crianças, que a juventude presente estava sendo amada! É um povo que se preocupa demais com o bem-estar dos visitantes. Ao som de músicas que cantam a vida, fomos ajudando na organização das mesas para o lanche, que foi doado por várias famílias daquele lugar. Entre pizzas, bolos, suco natural de laranja, a juventude se aproximava do banquete da festa, da partilha do fruto do trabalho humano, para se alimentar e ir para casa materialmente saciado. Para a comunidade, este ato significa orgulho. Para a juventude, gratidão. E fomos encerrando com inúmeras salvas de palmas e agradecimentos a todos e todas que contribuíram de alguma forma. E que venha Santa Cecília do Pesqueiro.

            Mas, enfim, o que colher de um dia como este? Para que esta pergunta seja respondida com sinceridade e adensamento de sentido, seria preciso dizer com as palavras o que se sente. Viver o DNJ da Pastoral da Juventude, em uma comunidade de base, com pessoas felizes na simplicidade que é ser Igreja ‘no fim-do-mundo’ (expressão utilizada por um jovem que pretende ser padre), é viver a experiência das primeiras comunidades, onde tudo que se tinha era de todos. E, assim, todo mundo tinha e era, ou era e tinha. Com isso, entendo que a colheita de um dia desses alimenta nosso coração com a esperança do Reino junto à juventude. 

É isso.
           


Leonardo D. Gonçalves
PJ do Rio Grande-RS.
Criando-me Acompanhante de Jovens

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