A terça-feira de 10 de janeiro, aqui por terras paranaenses começou cedo: a reza professada de um jeito bem gaúcho nos embalou pelas vozes que entoavam o ânimo e a beleza de se descobrir em missão. Partimos em um pequeno grupo para uma pequena cidade próxima a Maringá, com apenas 4000 habitantes e que transbordava cheiro de terra molhada. A acolhida, o sorriso, o abraço de cada um e cada uma que nos recebia na paróquia da cidade nos reafirmavam a certeza de sermos irmãos e irmãs de igreja, de caminhada e de sonhos. De lá, parti com mais alguns companheiros/as para o lugar onde o sol brilha forte, o dia começa mais cedo, a fruta cai do pé e tem gosto, cheiro e sabor. A Vila Rural, um assentamento de um projeto de “reforma agrária” do governo do Estado do Paraná, é um pequeno lugarejo, regado de histórias, de gente, de trabalhadoras e trabalhadores da colheita da laranja, dos abatedouros de Maringá, de gente também missionária que se apresenta como povo de Deus na caminhada das Comunidades Eclesiais de Base. A visita nas famílias, o sabor diferente da comida, o pé na terra, as cercas puladas, o sol a pino, os medos enfrentados para atravessar um mato que me cobria até os cabelos... As frutas com nomes diferentes, o papagaio chamado de mutuca, a criação do bicho da seda, o balanço que é balango. Estar no campo me preenche como se sempre estivesse e quisesse estar ali. Presenciei a vida que brota da terra com o suor de mulheres e homens, guerreiros e guerreiras explorados/as pelas más condições de trabalho e pelas empresas que usufruem dele para dar bem estar aos que estão lá longe. Uma menininha de nove anos acompanhava a mim e a meu companheiro paraense de missão; menina esperta que me marcou pela coragem de dizer com forte convicção: “quero ser professora quando crescer!” E depois ao se despedir com um abraço forte também disse que iria ser da PJ e viajar por um monte de lugares e que me visitaria em Porto Alegre. A comida partilhada por aqueles que pouco tem, mas muito são, me colocou na reflexão de minhas opções de vida. Os grupos de jovens da comunidade com seu jeito próprio de ser pejoteir@ me colocaram o questionamento se nossa ação pastoral realmente está sendo efetiva e principalmente afetiva.
Ao ouvir de cada pessoa que nos acolhia como era bonito o nosso trabalho, me descobri como missão permanente e me enchi da esperança... Esperança aquela que brota do povo sofrido que apesar da lida dura não deixa de crer na boniteza da vida. Apesar de estar numa terra em que nunca antes havia pisado, senti que o sol que brilha por aqui também é o mesmo que brilha de Belém do Pará à Porto Alegre. E que a missão de construir o Reino de Deus não se faz nem só no perto nem só no longe, nem só entre os desconhecidos ou entre os conhecidos, mas em qualquer pedaço de terra em que ecoa o grito por uma vida nova.
Maringá, 11 de janeiro.
Tanise Medeiros
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